sexta-feira, 9 de novembro de 2018




Pra falar da rotina.
Não, não é a rotina que me assusta. Não é a construção de hábitos o que me amedronta. O que me deixa atordoada é a falta. Falta de carinho, de atenção. Falta de perguntas com interesse real pela resposta. Falta do olhar apaixonado e cúmplice. Do desejo e do amor. Falta da saudade por ter de ficar distante um dia inteiro e, mesmo quando perto por muito tempo, falta pela falta que a pessoa ainda vai fazer.
Não, não é a rotina o que me mata. Ela está lá e faz parte. É bom saber que vamos nos sentar à mesa e ali faremos a nossa primeira refeição de um dia que poderá ser ensolarado ou cinza, alegre ou triste, a depender de nosso estado de humor. Que sairemos juntos de casa todos os dias e ao final deles nos encontraremos para juntos voltarmos pra casa.
Não vejo prejuízo na rotina. Ela é boa também. O que não é bom é o automatismo das ações, a repetição de gestos e palavras esvaziados de qualquer sentido. Isso sim é erva daninha. Isso faz com que a nossa casa pequena se transforme num campo aberto e minado. Sobra espaço e angústia. Sobra amplidão. Falta aconchego, proximidade, intimidade, calor.
Não, definitivamente não é a rotina que me incomoda. O que me enche o peito de vazios é o querer estar em outro lugar, com outras pessoas, a falta do que dizer. O que machuca mesmo é a presença não presente.


Luciana Gomes

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